sábado, 10 de julho de 2010

Sociobiologia

A natureza humana, estudada pela biologia, fornece os princípios fundamentais de quem nós somos, mas ainda em matéria bruta, precisando ser devidamente “talhado” de acordo com a formação social, histórica e cultural posterior.

Podemos citar o tão comentado “tabu do incesto” que praticamente é debatido apenas quanto aos seus aspectos culturais. Quase não se fala que caso o ser humano encontrasse parceiros reprodutores dentro da própria família, o risco de doenças genéticas seria consideravelmente maior, além de que não havendo troca de genes a diversidade biológica entre os indivíduos é pequena, o que enfraquece a população do ponto de vista da seleção natural. Curioso perceber que ao contrário do que o nazismo colocava, a purificação da raça ariana só iria enfraquecê-los do ponto de vista genético. Uma população mestiça como a nossa é em geral mais resistente que uma mais “pura”, embora as diferenças biológicas entre as etnias não sejam muito significativas.

Outro ponto interessante é o instinto de competição, tratado por nós quase que puramente como um produto histórico. Quase não pensamos que querer ser o melhor é quase um pré-requisito para ser um ser vivo. Se em uma sociedade “primitiva” vivia em propriedade comunal, é porque seu instinto de competição estava dirigido para outras áreas, os conflitos tribais, as disputas pelas mulheres, pelo comando do grupo... O instinto de competição só se voltou para a propriedade privada no momento em que a produção e o comércio se mostraram fortes o bastante para se tornarem competitivas. Portanto, se formos falar em comunismo, é preciso considerar que estamos enfrentando também nossos genes. O instinto de competição precisaria ser suprimido ou direcionado para outra atividade; o esporte quem sabe. Isso explica sentimentos como o ciúme, a inveja, a ambição, etc.

Marx afirmou que os seres humanos se reúnem em sociedade para produzir, não só bens de consumo, mas língua, símbolos, cultura em geral. Com isso, Marx está afirmando que não existe sociedade sem produção. Consideramos essa produção, e conseqüentemente a sociedade, como marco da existência do ser humano. No entanto, sabemos que nossos ancestrais já viviam em comunidade a milhões de anos atrás. Pensando dessa forma, talvez possamos concluir que a vida em sociedade foi uma fatalidade do processo de evolução da mente humana. Em outras palavras, o ser humano não se reuniu em momento algum. Ele já se encontrava reunido quando tomou conhecimento de si, já se encontrava organizado em comunidade, vivendo sob um sistema de regras rudimentar determinado pelo imperativo darwinista, os instintos naturais como o amor, o ódio, a compaixão, o egoísmo, a coragem, o medo, o carinho, o sadismo, etc. Cada um desses princípios desempenhou um papel importante no sentido de regular a comunidade, mantendo a segurança dos indivíduos. Claro que eram sentimentos que se manifestavam ainda de forma rudimentar, talvez apenas um pouco mais desenvolvidos do que os dos nossos primos macacos, mas com o tempo eles se fortaleceram, até que mais tarde ganharam seu acabamento lado a lado com o desenvolvimento cultural, uma vez já humanos.

Daí, encontramos a verdadeira razão para o ancestral do homem ter se reunido: a sobrevivência. Teria sido uma transformação administrada pela seleção natural. Os grupos menores, ou eventuais indivíduos isolados, foram todos esmagados pela lei da selva, a lei do mais adaptado. Produzir haveria sido uma necessidade de sobreviver. O grupo que desenvolvia melhores armas, melhores casas, melhores maneiras de obtenção de alimento, sobrevivia. Aqueles que não conseguiam, eram mortos. Mas também não falo de sobreviver no sentido de meramente continuar respirando; sobreviver e satisfazer os seus instintos, a competição, a reprodução, a necessidade de se sociabilizar, o desejo pelo conforto, pela busca da felicidade, que nós estamos programados por nossos genes a seguir.

Cohen, diante da dificuldade de estabelecer a relação de influências que há entre forças produtivas e relações de produção, propõe a existência de uma força motor que há antes das forças produtivas, e atua diretamente sobre ela. Segundo ele: “essa força motora é a racionalidade humana, um impulso racional e sempre presente dos seres humanos no sentido de tentar melhorar a sua situação e superar a escassez pelo desenvolvimento das forças produtivas” (p 158, dicionário do pensamento marxista). Qual é a diferença mais fundamental entre esse discurso e o imperativo darwinista de buscar sempre satisfazer os desejos programados pelos seus genes? Basicamente, eu diria que é só o discurso marxista na forma de apresentá-lo.

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