sábado, 10 de julho de 2010

Os elementos que contribuem para estruturar o processo de auto-imagem entre os grupos sociais segundo Norbert Elias.

Um dos pontos fundamentais para compreender o processo de formação da auto-imagem do indivíduo é, segundo Norbert Elias, o fenômeno da inserção da identidade de um grupo dentro da identidade de um indivíduo. Quando são feitas afirmações do tipo “eu sou brasileiro” ou “eu sou católico”, o indivíduo se apossa da identidade que diz respeito ao grupo dos brasileiros ou dos católicos e a incorpora a sua identidade pessoal, passando a entender os membros do seu grupo como semelhantes e os não-membros como “os outros”. Esse fenômeno de caráter universal é o cerne e o ponto de partida para as relações de poder intergrupais que coordenam o processo de formação da auto-imagem.

Sendo assim, a idéia de poder está diretamente relacionada ao ego dos indivíduos e a uma consciência grupal. Uma vez que a identidade do homem encontra-se submetida à de um grupo, as críticas dirigidas a este podem ser levadas para a esfera pessoal. Quando determinado aspecto que caracteriza a identidade de um grupo perde espaço para o de outro, o primeiro perde poder dentro de uma hierarquia social. Sendo o grupo parte do indivíduo, este também perde poder; quando o ego do grupo decai, o dos indivíduos o acompanha. Não obstante, os diferentes grupos lutam cada um para ter uma posição social superior em relação aos demais, fortalecendo a posição de seus membros em relação aos dos outros. O ganho de poder de um grupo representa sempre uma ameaça para os grupos divergentes, pois, mesmo não havendo uma queda do poder destes em termos absolutos, à medida que as distâncias entre um e outro se reduzem, há um enfraquecimento relativo.

Mas que mecanismos são usados para submeter um grupo em relação a outro? A classificação e a estigmatização são dois métodos eficientes. Através da classificação são estipuladas as barreiras que delimitam os grupos, dificultando a ocorrência de transgressões em qualquer um dos sentidos e facilitando o policiamento destes. A estigmatização é o recurso ideológico que nos permite atribuir qualidades generalizantes aos grupos, de forma a encaixá-los em posições dentro da hierarquia social. Comumente, o grupo dominante, que se encontra no controle dos meios de produção ideológicos, atribui aos seus próprios valores o topo da hierarquia; estes passam a ser os valores mais nobres que se pode ter. Os outros grupos, normalmente, são colocados em posições inferiores.

Um meio bastante comum de estigmatizar é através da língua. Uma vez que a idéia de pertencer a outro grupo é depreciada, uma vez que uma série de idéias negativas lhes é associada, é compreensível que com o tempo, a palavra que antes apenas designava este grupo passe a adquirir um sentido conotativo que invoque os conceitos depreciativos que a tanto tempo lhe foram imputados. Assim, o sentido que a palavra tem se confunde com o que ela de fato representa, incorporando não só no grupo dos dominadores mas também no grupo dos dominados a idéia de superioridade de um em relação ao outro.

A fofoca se revela um instrumento de grande eficiência na função de policiar os indivíduos para que estes não cometam transgressões dentro dos grupos em que se encontram, não rompendo as relações de poder estabelecidas. Já que a desobediência quanto a uma norma grupal representa a perda de poder deste e, conseqüentemente, a perda de poder dos indivíduos que o constituem, é imperativo que essas transgressões sejam repudiadas. A intolerância quanto aos comportamentos divergentes se manifesta na forma de hostilidades, ainda que de caráter passivo. Através da fofoca, a transgressão de um indivíduo se torna conhecimento comum dentro do grupo em que ele opera, provocando uma reação hostil contra ele, que o faz perder poder dentro da hierarquia social.
Também é evidente que quanto mais coesão um grupo possui, quanto mais fechado em si mesmo ele é, maior é a expectativa de se observar este tipo de fenômeno. Quanto mais rígidas forem as normais grupais e o policiamento realizado, maior se espera que seja a desigualdade existente entre os grupos.

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