sábado, 10 de julho de 2010

O posicionamento de Pierre Bourdieu sobre o senso comum, face ao processo de construção do objeto na atividade de pesquisa.

Segundo Pierre Bourdieu, é preciso romper com o senso comum para que e possa construir um objeto científico. Antes de tudo, é preciso que o cientista abandone as pré-noções que o acompanham, que fuja aos entendimentos usuais que não são fruto de um processo reflexivo científico.

Para a construção do objeto, faz-se necessário questionar suas pré-noções antes de aprender o modus operandi da produção científica, porque a única maneira possível de adquirir esse conhecimento é através da observação prática de como reage este habitus científico. A transmissão do habitus pode ser conferida por indicações práticas ou correções feitas na prática. Bourdieu afirma que é necessária uma postura sistemática perante os fatos. A passividade empirista, segundo ele, apenas reafirma as pré-noções do senso comum. Segundo ele, isso “não se trata de propor grandes construções teóricas vazias, mas sim de abordar um caso empírico com a intenção de construir um modelo, de ligar dados pertinentes de tal modo que eles funcionem como um programa de pesquisas que põe questões sistemáticas, apropriadas a receber respostas sistemáticas; em resumo trata-se de construir um sistema coerente de relações, que deve ser posto a prova como tal” (p.32). Ele também afirma que é importante entender a pesquisa como atividade racional e não como uma busca mística. Isso significa deixar de lado a visão do comportamento científico como algo oficial, preciso e infalível, que acaba criando um senso comum douto, que nada mais é do que a transcrição do discurso do senso comum travestida de caráter científico. Para ele, é preciso cercar-se de ceticismo, questionar todos os seus pressupostos e variáveis possíveis, numa atitude ativa e sistemática, alicerçado não só na intuição racional, como também no raciocínio analógico.

Bourdieu afirma a necessidade de quebrar aquilo que ele chamou de “monoteísmo metodológico”, ao se referir à rigidez na apresentação das regras de ação na construção do objeto do conhecimento. Através da união de opções teóricas e técnicas empíricas, que podem ser multivariadas, é possível jogar novas luzes sobre diversos ângulos do mesmo prisma.

De acordo com o senso comum, o método científico é visto como o caminho pelo qual uma ciência deve seguir para construir o seu objeto de estudo. Bourdieu nega essa concepção, colocando que o método científico é um conjunto de regras criadas pelo homem para legitimar o status do trabalho realizado, fornecendo a aparência de seriedade acadêmica que apresenta o estudo, como portador de uma solidez inquestionável. Segundo ele, as normas não fazem parte do momento de origem de determinada ciência, e que esta acaba por encontrar o seu caminho próprio por outro rumo que difere das regras impostas a ela. Portanto, o método científico agiria na verdade como limitador no processo de produção de conhecimento. A ciência seria capaz de corrigir-se naturalmente ao enfrentar os obstáculos práticos que se interpõem a ela.

Sendo assim, a relação do sociólogo com o seu objeto deve ser objetiva, consciente de suas motivações e interesses sobre o referido objeto, a fim de estabelecer condições mínimas de ruptura com os modelos prontos para que não se incorra numa visão parcial e reducionista com ares de ciência.

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