sábado, 10 de julho de 2010

O Estado Liberal segundo David Ricardo

David Ricardo ironicamente era corretor da bolsa de valores. A visão de Ricardo não era tão otimista quanto a de seu amigo quanto ao capitalismo. Ele adotou a conhecida teoria populacional malthusiana que enunciava que o crescimento populacional se dava em progressão geométrica enquanto o crescimento da produção de alimentos se dava, na melhor das hipóteses, em progressão aritmética. Isso significa que a necessidade de consumo aumentaria muito mais rapidamente do que a capacidade de produção, o que, a longo prazo, causaria o caos. Seria necessário que houvesse guerras e fome para controlar o crescimento populacional.

Ricardo aborda a teoria malthusiana dentro da lógica da economia clássica, dividida por classes sociais. Para ele, a humanidade seria reduzida a uma busca de subsistência. Todos receberiam o mínimo de salário possível, apenas para poder voltar a trabalhar no dia seguinte.

Ele nos leva a conclusão de que a compaixão pelo trabalhador não só é descabida como também prejudicial. Isso aumentava o ritmo de crescimento da população. Qualquer esforço dos sindicatos trabalhistas ou dos governos no sentido de salvar o povo da miséria só produziria resultados temporários. Um aumento da qualidade de vida dos trabalhadores, levaria as pessoas a viverem mais tempo e a terem mais filhos, o que faria o crescimento populacional ser ainda mais veloz o que só adiantaria essa crise eminente. Esse raciocínio fatalista do Ricardo forneceu aos ricos uma fórmula plenamente satisfatória de se conformarem com a infelicidade dos pobres.

É possível ainda questionar a extrapolação que essas conclusões tiveram, pois o aumento populacional não necessariamente significa o aumento da pobreza, mas sim o aumento da quantidade de pobres. Assumindo que os indivíduos são produtivos, ou seja, geram renda, a existência de uma quantidade maior de pessoas não necessariamente aumentaria o grau de pobreza da população. Em termos grosseiros pode-se dizer que ao mesmo tempo em que uma pessoa representa uma boca a mais para alimentar, também representa duas mãos a mais para trabalhar e produzir. No entanto, o problema que Malthus e Ricardo viram estava ligado a capacidade produtiva da terra. Para Ricardo, havia uma tendência a se ocupar terras cada vez menos férteis, ou seja, menos produtivas, porque a demanda aumentava, e isso geraria um aumento dos preços, o que diminuiria a capacidade de consumo das pessoas.

No entanto, a realidade não seguiu exatamente o rumo retratado por Ricardo. Este autor falava de uma economia essencialmente agrária. Nos meios industrializados acabou havendo um fenômeno espontâneo de controle de natalidade pela circunstância da sociedade. Viver em um meio urbano tem um custo de vida muito maior, e isso leva as pessoas a terem menos filhos. Assim, enquanto no campo as famílias tinha 8, 10 filhos, na cidade passaram a ter 1 ou 2, o ideal de família da sociedade burguesa. Esse fenômeno representou uma significativa desaceleração do crescimento populacional. Além disso, aos poucos foram introduzidas novas tecnologias na produção agrícola, como insumos, tratores, agrotóxicos, etc., sobretudo após a revolução verde ocorrida na década de 1960. Com essas inovações a produtividade agrícola aumentou muito além do que Ricardo ou Malthus podiam imaginar, afastando ainda mais a preocupação das limitações da produção.

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